sábado, 16 de fevereiro de 2008

A escola do futuro próximo, por Fátima André



© Bandeira

Importa saber de que creches o governo fala – se do ensino pré-escolar, se das novas medidas que estão a ser conjecturadas para transformar o 2º ciclo numa espécie de creche, depois das actividades lectivas.
Segundo o noticiado pelo DN e a interpretação que faço, parece ser essa a intenção subjacente à designação “escola a tempo inteiro”. É natural que a sociedade tem que dar resposta a necessidades de outro âmbito e que estão muito para além do currículo prescrito, mas não queiram despejar tudo para cima da escola e dos professores. Naturalmente que as crianças têm direito a que lhes sejam proporcionadas experiências diversas de enriquecimento cultural, para além do currículo normal, no entanto, como sabemos, as nossas escolas não têm condições para essas utopias. Dou um exemplo concreto, real e ao mesmo tempo irrisório: estive na passada 4ª feira numa reunião de conselho de turma intercalar, onde nos foi comunicada pela parte de alguns docentes que a concretização de um projecto interdisciplinar foi cancelado por falta de verba para se adquirir uns míseros 3 litros de cola branca (não havendo cola branca, não podiam ser concluídos os fantoches que estavam a ser feitos para um projecto (no âmbito do PCT) que envolvia mais de 5 ou 6 disciplinas, desde a LP, ING, HGP, EVT, AP, FC… Estamos a falar de um projecto que envolve conteúdos específicos disciplinares, competências específicas, objectivos bem definidos, com um processo de avaliação previsto… e onde tudo ficou comprometido por 3 litros de cola branca). Estamos a falar de aprendizagens dos alunos. Não podemos brincar com coisas sérias. Se para o essencial e para as necessidades presentes não há respostas satisfatórias, também não sei como se pode pensar em projectos tão ambiciosos e como implementá-los nas escolas. Imaginemos que uma dessas actividades extra-curriculares é o ensino de violino ou piano. Como é que as escolas vão ter verba para adquirir os instrumentos, para além de outros problemas que se levantam em termos de espaços e outros… será que vão obrigar os pais a suportar mais umas despesas suplementares? Importa não esquecer que estamos a falar de ensino público e gratuito… E também não vejo os alunos a transportar de casa para a escola um piano 2 vezes por semana. É claro que o exemplo é ridículo e é tão ridículo como as medidas que a tutela quer implementar.

Pelo andar da carruagem, como refere o Professor Ramiro Marques “É provável que a Ministra ainda tenha tempo para anunciar a suprema das medidas, a mãe de todas as reformas da Educação: as escolas públicas irão passar a funcionar em regime de internato, oferecendo uma verdadeira “escola a tempo inteiro”: 24 horas por dia de actividades lectivas, de enriquecimento curricular e de repouso”.

Os pais iriam ficar muito animadinhos… até já estou a ver o filme: instalação de duches nos wc dos meninos (porque convém andarem limpinhos) e subsídio aos pais menos favorecidos para compra de escova de dentes e sacos-cama que, de noite, se instalam na própria sala de aula… Tendo a escola, cantina, TV, computadores, alimentação equilibrada, animadores, professores, espaço para fazer os TPC... os meninos passarão a semana na escola com actividades pedagógicas ininterruptas, o que é muito melhor para a sua integração sócio-afectiva e cultural, do que estar em casa com pais cansados e deprimidos pela crise que assola o país, só indo a casa nos fins-de-semana.

É claro que estas medidas podem dar jeito aos pais, mas será que ainda não se deram conta do mal que podemos estar a fazer às crianças?

Valha-nos Deus, não sei como é que uma Srª doutorada consegue dizer e assinar tantas asneiras juntas…

2 comentários:

Fátima André disse...

Cara Fátima,

Fico muito grato pela transcrição do meu post.
A união faz a força!
Abraço.

Fátima André disse...

grata, no feminino, claro!
Boa semana :))