quarta-feira, 16 de abril de 2008

Mentos e Coca-Cola... opinião do Prof. Carlos Corrêa

2007-03-12 Por Carlos Corrêa




Circulam na Internet várias referências (incluido imagens de vídeo) à divertida e espectacular "reacção" de libertação de dióxido de carbono de uma garrafa de Coca Cola quando se despeja dentro dela uma embalagem completa de Mentos (pastilhas de chupar, de frutas variadas, com a forma de um elipsóide achatado, tipo tremoço, mas com maior tamanho).

Os jóvens pensam tratar-se de uma reacção química entre os componentes dos Mentos e da Coca Cola e circulam mesmo boatos alarmistas na Internet referindo a morte de crianças devido à formação de um composto-bomba inventado por alguns pândegos, o Ta9V4, após a ingestão destes produtos. Este Ta9V4 resultaria da reacção do Acesulfame K existente na Coca Cola Light com os componentes dos Mentos.

Quando um químico observa o fenómeno, percebe imediatamrente que a "reacção" não é química pois é demasiado rápida, muito mais rápida do que seria a passagem dos componentes dos Mentos para a solução.

Para desmistificar o boato, aconselho os jovens a efectuarem a mesma experiência que os meus netos realizaram:



1-Devagarinho, para não perder muito gás, colocque 50 mL de Coca Cola Light num copo e introduza uma pastilha de Mentos na solução. Notará a abundante libertação de gás, que não é mais violenta do que a que se verifica se agitarmos a Coca Cola ou se lhe introduzirmos alguns grãos de arroz.
Repita a experiência com Coca Cola normal (que não contém Acesulfam K) e com água gaseificada Carvalhelhos e verifique que a libertação de gás é análoga, embora com a água gaseificada as bolhas sejam maiores.

2-Para confirmar que não há qualquer reacção química, coloque 3 pastilhas de Mentos em Coca-Cola normal, agite bem para dissolver o mais possível durante 2-3 minutos e decante a solução para um copo com 50 mL de Coca Cola Light (a que tem acesulfame K). Quase não há libertação de gás. Dado que as reacções químicas são tanto mais rápidas quanto maior for o contacto entre os reagentes, aqui não ocorre nenhuma reacção química pois, como os possíveis reagentes se encontram na mesma fase (líquida), a reacção deveria ser ainda mais rápida.

Que se passa então? Como os alunos sabem, as bebidas gaseificadas, como a Coca-Cola e outros refrigerantes, contém dióxido de carbono dissolvido, em equilíbrio, sob pressão, pronto a escapar-se quando a pressão sobre a superfície livre da solução diminui. É necessário retirar a cápsula da garrafa devagarinho, sem agitação, tombando-a um pouco para que algum gás que se liberta não arrastar o líquido pela boca da garrafa (lembremo-nos dos vencedores das competições Fórmula 1 no pódio ...).

Se introduzirmos na solução um palito ou se a agitarmos com uma colher, a libertação de gás é muito mais abundante pois estes objectos constituem núcleos de libertação das bolhas gasosas da solução sobressaturada de CO2.

Se examinarmos um Mento à lupa verificamos que a sua superfície é particularmente rugosa ... e é nestas irregularidades que se liberta o gás.

Se usarmos um Mento retirado da mistura 2, parcialmente dissolvido, sem a superfície rugosa inicial, quase não há libertação de gás.

Moral da história: não papem tudo que vem na Internet.

Fonte:

Mentos e Coca-Cola I

Para os meus curiosos alunos... he he

domingo, 13 de abril de 2008

Escola a tempo inteiro!

Obrigada, Srª Ministra. A Senhora é que percebe desta coisa de ser mãe! A Senhora desculpe a minha ousadia, mas será que também não seria possível fazer uma lei para os miúdos poderem ficar a dormir na escola? Bastava mandar retirar as mesas e cadeiras das salas de aula e substituí-las por beliches, à noite. De manhã, era só desmontar e voltar a arrumar. Têm bar, cantina e até duche. Com jeito, eles ainda aprendiam alguma coisinha sobre tarefas domésticas, porque, em casa, não os podemos obrigar a fazer nada ou somos acusados de exploradores do trabalho infantil com a ameaça dos putos ainda poderem apresentar queixa junto das autoridades policiais.

Leia aqui a carta de de uma Mãe à Ministra da Educação a "agradecer" o conceito de escola tempo inteiro. É um documento de uma ironia fina: um documento que retrata a triste e arrepiante realidade das crianças que são obrigadas a passar 10 horas por dia na escola.

Obrigada Prof. Ramiro Marques pelos seus blogues e perdoe a minha ousadia em copiar...

Quanto trabalha um Professor?

CURIOSIDADE:

O QUE EM MÉDIA UM PROFESSOR DO 2.º OU 3.º CICLO FAZ DURANTE UM ANO LECTIVO?

Nem preciso fazer contas... alguém já as fez


Com base no meu 'estudo' pessoal alaborado por Lurdes Paraíso

Lecciono 6 turmas em Educação Visual, no total de 117 alunos

Lecciono 1 turma em Formação Cívica, de 19 alunos

Lecciono 1 turma em Área Projecto, de 23 alunos

Lecciono Aulas de Complemento Curricular no 1.º ciclo, no Clube de Artes, do 1.º ao 4.º ano, no total de 21 alunos

Lecciono o Clube de Jornalismo, no total de 13 alunos

Logo trabalho em contextos específicos com 193 alunos

A

Documentação/papeis criados, preenchidos e tratados:

1- Início do ano: Planificações (1 pág. por turma/disciplina/área = total de 10 págs.); Critérios de Avaliação/correcção (1 pág. por turma/disciplina/área = total de 10 págs.); Descriminação de competências a atingir (1 pág. por turma/disciplina/área = total de 10 págs.); articulações interdisciplinares (1 pág. por turma = total de 6 págs.); (...)

são fotocopiadas (1 exemplar para o dossier de Directores de Turma, no Plano Curricular de Turma, 1 ex. para o Conselho Executivo, anexo à acta, 1 ex. para os nossos registos pessoais, 1 ex. para o dossier de Departamento ...)

Logo, num total de 36 páginas (120 fotocópias)

Se temos alunos com 'NEE', serão mais 4 páginas de documentação, fotocopiadas em triplicado, logo 12 págs.)

Ficam de fora, testes diagnósticos (117 fotocópias e 6 relatórios = 6 págs.)

2- a meio de cada período (Avaliações Intercalares):registo de avaliações intercalares (1 pág. por turma/disciplina = total de 8 págs.) (...)

Logo 3 períodos, num ano lectivo, no total de 24 págs.)


3- Final de período: fichas de avaliação(1 pág. por aluno = total de 193 págs. Fotocopiadas em duplicado); ficha de avaliação de Formação Cívica, Área Projecto, Clube de Jornalismo, Educação para a saúde, Clube de Artes (1.º ciclo) (1 pág. por disciplina/área = total de 5 págs.)
Logo, num total de 198 págs. (394 fotocópias)
Logo, tendo 3 períodos lectivos, dá um total de 594 págs. (1182 fotocópias)

4- Sou Directora de Turma:início do ano: Plano Curricular de Turma (25 págs., fotocopias: 1 ex. para dossier de Direcção de Turma, 1 ex. para o Conselho Executivo); Planos de Recuperação (este ano tive 6 alunos com) (cada plano 4 págs., logo 24 págs., fotocopiadas duplicado); registo de faltas (10 disciplinas, registadas em fichas e depois no sistema informático); preenchimento das fichas de avaliação (total de 19 páginas); (...)
Logo, num total de 78 págs. (98 fotocópias)

5- No último período, ainda relatórios de avaliação: para Formação Cívica (1 pág.); para Área Projecto (1 pág.); para Clube de jornalismo (1 pág.); como Directora de turma: para avaliação da turma (2 págs.); para Planos de Acompanhamento (1 pág.); para Retenção (1 pág. por aluno, depende das retenções); para Retenção Repetida (3 pág. por aluno, depende das retenções repetidas); para Planos de Recuperação (1 pág. por aluno, vou fazer 6, porque tenho 6 alunos em Planos = 6 págs.); para Director de Turma, sobre o meu trabalho desenvolvido (média 3 págs.); para o Clube (1 pág.); para o 1.º Ciclo (1 pág.); (...)
Logo, num total no mínimo de 22 págs. (44 fotocopias)

Como compreenderá, deve estar a escapar-me alguma coisa, ou haver aqui alguma margem de erro,
Em resumo (ao longo dum ano lectivo):

a)Trabalho com... 193 alunos

b)Posso criar, analisar, preencher, ('passam-me pelas mãos') ... 758 páginas (papel)

c)Estão envolvidos aproximadamente... 1 456 fotocópias/PB

d) Faço em média... 17 367 registos (mão livre/informatizados)em documentos oficiais
(explico a seguir)Nas fichas de avaliação dos alunos (1 por aluno = 193 alunos) são registados dados (cruzes, abreviaturas de menções qualitativas, etc.):
Educação Visual_7 dados/aluno x 117 alunos x 6 turmas x 3 períodos = 14742 registos;
Formação Cívica_7 dados/aluno x 19 alunos x 3 períodos = 399 registos;
Área Projecto _5 dados/aluno x 23 alunos x 3 períodos = 345 registos;
Como Directora de Turma (preencher dados como: nome, números, faltas, cruzes de avaliação global, cruzes de recomendações ao encarregado de educação) = aproximadamente: 33 dados/aluno x 19 alunos x 3 períodos = 1881 registos

e) Somando os registos oficiais com os pessoais (alínea a + e), dá... 30 003 registos totais
(explico a seguir) Se considerar os dados que manipulo antes de os introduzir nos documentos oficiais, então será só na disciplina de Educação Visual, o seguinte:
3 Trabalhos (média) por período x 12 registos (12 critérios de avaliação/correcção em Excel) x 3 períodos x 117 alunos (em Educação Visual) = 12636 registos pessoais

B

Reuniões ao longo do ano lectivo: 91 reuniões

a) Conselhos de Turma:

1 Setembro + 1 início ano lectivo (após as aulas começarem) + 1 fins de Setembro

+ 1 Intercalar do 1.º período + 1 final do 1.º período (avaliação) + 1 intercalar do 2.º período + 1 final do 2.º período (avaliação) + 1 intercalar do 3.º período + 1 final do 3.º período (avaliação) x 6 turmas = total de 54 reuniões



b) Encarregados de Educação, porque sou também Directora de Turma:

1 Início aulas + fim 1.º período + fim 2.º período + fim do 3.º período x 1 turma = total de 4 reuniões

(fora as reuniões que vou tendo com Encarregados de Educação nas horas de atendimento e a título individual)

c) Outras reuniões:

Reunião Geral (2 reuniões/ano) + Conselho de Directores de Turma (10 reuniões/ano) + Áreas Curriculares não Disciplinares (3 reuniões/ano) + Clubes e Projectos (3 reuniões/ano) + Departamento (11 reuniões/ano) + reuniões diversas, tipo preparar actividades extra-curriculares (média 4 reuniões/ano) = total de 33 reuniões

C

Outros indicadores, que 'não têm papel', nem convocatórias:

- Ensino Educação Visual, sou 'psicóloga', 'mãe/pai', procuro resolver problemas de indisciplina, de zangas, de 'guerras e guerrinhas', ouço desabafos, confidências, avalio e envio relatórios para Segurança Social, Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, quando é necessário; _nota: trabalho com adolescentes

- Atendo Pais e Encarregados de Educação, articulo com eles, mas não recebo outros Pais ou Encarregados de Educação de que tanto preciso, porque não querem, ou, não podem vir à escola;

- Participo na organização, colaboração de actividades extra-curriculares, tipo: Festa de Natal, Carnaval, Páscoa, 'Feira de Maio', Encerramento Ano Lectivo, (...);

- Faço a paginação do jornal da escola (28 págs. /jornal x 3 períodos = 84 págs.)

- (Fazendo uma média de dois trabalhos por período na minha disciplina), observo e acompanho: 117 alunos x 2 trabalhos/média/período x 3 períodos =702 trabalhos práticos.

- (...)

FIM


Mandei estes dados para um deputado da Assembleia da República que nos pedia o número de alunos que em média um professor tem, porque por lá consta que é uma média de 7 ou 8 alunos/professor.

Respondi ao e-mail, mas resolvi acrescentar toda esta informação...

Falaram em muita Burocracia? Que os Professores que não trabalham e têm muito tempo livre, muitas férias? Que os Professores dão as suas 'aulitas' e estão na sala de professores aos 'montes' sem fazer nada?

ENTÃO PERGUNTO QUEM FAZ TUDO ISTO? O GATO DA VIZINHA?

Não falei das aulas de substituição...

Também me esqueci, de lembrar que um professor é um ser, com direito a uma vida pessoal, a constituir família e a ter horas e momentos felizes e livres....

ATÉ HOJE, NÃO ME QUEIXAVA DO TRABALHO...

MAS AGORA, DIGO 'BASTA'

BASTA DE MAIS BUROCRACIA, DEIXEM-ME DAR AULAS...

E SOBRETUDO, NÃO ADMITO QUE ME AO FIM DE TUDO ISTO...

ME DESRESPEITEM...

QUE ME CHAMEM DE 'PROFESSORZECA'

QUE NÃO FAÇO NADA...

E DIGAM QUE NÃO ENTENDO A LEGISLAÇÃO...

AGORA PENSEM, QUANDO O ESTATUTO DO ALUNO ENTRAR... E A SUPOSTA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO?

TU ACHAS QUE VAIS AGUENTAR?

Avaliação de Professores - Este ano lectivo tudo igual para todos

Lisboa, 12 Abr (Lusa) - O Ministério da Educação (ME) cedeu hoje às pretensões dos sindicatos de professores e este ano lectivo a avaliação de desempenho terá apenas em conta quatro parâmetros, aplicados de igual forma em todas as escolas.

De acordo com um documento distribuído no final de uma reunião de mais de sete horas, entre a equipa ministerial e a plataforma sindical, a ficha de auto-avaliação, a assiduidade, o cumprimento do serviço distribuído e a participação em acções de formação contínua, quando obrigatória, serão os únicos critérios a ter em conta.

Estes quatro parâmetros integram o regime simplificado da avaliação de desempenho a desenvolver este ano lectivo, sendo aplicados a todos os professores contratados e aos dos quadros em condições de progredir na carreira, num total de sete mil docentes.

"Para efeitos de classificação, quando esta tenha lugar em 2007/08, apenas devem ser considerados os elementos previstos na alínea anterior", lê-se no documento.

Os sindicatos exigiam que estes critérios fossem aplicados de forma igual em todos os estabelecimentos de ensino, ao contrário da posição inicial do Ministério da Educação, que os queria como parâmetros mínimos do sistema de avaliação, podendo as escolas trabalhar com outros procedimentos.

Aliás, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues defendeu sempre procedimentos simplificados mínimos e não universais, argumentando que as escolas tinham ritmos e capacidades de trabalho diferentes na aplicação do modelo de avaliação de desempenho.

Em relação aos docentes que serão avaliados em 2008/09, a larga maioria, os estabelecimentos de ensino devem continuar a recolher todos os elementos constantes dos registos administrativos da escola.

Relativamente aos docentes que serão avaliados no primeiro ciclo de avaliações, este ano lectivo e no próximo, a tutela e os sindicatos estiveram de acordo relativamente à necessidade de reforçar as garantias dos professores.

Assim, os efeitos negativos das classificações de "regular" ou "insuficiente" estarão condicionados a uma nova avaliação a realizar no ano seguinte, não se concretizando caso a classificação nessa avaliação seja, no mínimo, de "Bom".

Os efeitos penalizadores de uma nota de "insuficiente" só se farão sentir no caso dos docentes contratados em vias de renovação.

Quando estes forem classificados com "regular", poderão ver os seus contratos renovados caso se mantenha a existência de horário lectivo completo e haja concordância expressa da escola.

Os sindicatos exigiam ainda a sua integração na Comissão de Acompanhamento da Avaliação de Professores, mas a tutela comprometeu-se apenas a constituir, até final do mês, uma comissão paritária com a administração educativa, que terá acesso a todos os documentos de reflexão, tendo em vista o acompanhamento da aplicação do modelo de avaliação.

Ainda assim, a plataforma sindical conseguiu a realização de um processo negocial que terá lugar em Junho e Julho de 2009, tendo em vista a introdução de "eventuais modificações ou alterações".

Outra das reivindicações dos professores prendia-se com a aplicação de qualquer procedimento decorrente do novo diploma sobre gestão escolar apenas a partir do final do primeiro período do próximo ano lectivo.

Segundo este diploma, os futuros conselhos gerais deveriam estar constituídos até ao final deste ano lectivo, mas o Governo vai permitir que os membros daquele órgão estejam eleitos até 30 de Setembro de 2008.

MLS

Lusa/Fim

A Diva em plena forma



Madonna ft. Justin Timberlake - 4 Minutes

Espectacular...



Emilie Simon - Come as you are (live)

domingo, 30 de março de 2008

O caso do telemóvel no Carolina (parte II)


Faço minhas as palavras desta Senhora (ler em baixo) e de muitas outras pessoas sensatas, que neste país se têm manifestado sobre este lamentável caso de indisciplina, má educação e falta de respeito (de uma turma inteira) para com uma Professora da Escola Sec. Carolina Michaelis.
Mas não me surpreende. Assim como não surpreende a maioria dos Professores portugueses que dão aulas sobretudo nas áreas metropolitas de Lisboa e Porto.
Existe indisciplina nas Escolas: os alunos falam constantemente, apesar de também constantemente chamados à atenção para estarem calados e atentos, muitos não estão
quietos, alguns mexem no telemóvel por baixo da mesa (a desculpa é sempre "Estava a ver as horas."), distraem os colegas, gozam com outros que participam nas aulas, muitas vezes são maus uns com os outros,... perturbam as aulas. As participações disciplinares implicam em alguns casos umas limpezas de folhas de árvores durante uma ou duas manhãs ou tardes... e já está.
E o que acontece? Passam com três e quatro negativas (porque "a retenção de um aluno é uma situação excepcional") e no próximo ano lá estão: sem bases e sem responsabilidade. É a cultura do facilitismo.
É também por isto que eu já não gosto tanto de dar aulas...
Nos últimos catorze anos a minha motivação inicial de uma carreira no ensino já era...
Lamento. Estou triste, cada mês mais triste com este Sistema de Ensino e com esta "carreira". (O meu pai é que tinha razão, queria que eu fosse farmacêutica ou arquitecta. Pelo menos são profissões bem mais respeitadas.)

Fátima Vieira



E agora a opinião de Alice Vieira

Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.
Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os "Morangos com açúcar", só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.
Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar…- é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas…)
Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!
O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.
Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.
Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.
E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.
E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.
E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.
A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.
A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.
E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.
E nós deixamos.

Alice Vieira
In JN, 30/03/08

O caso do telemóvel no Carolina (parte I)

A opinião de Moita Flores (Blog do Prof. Ramiro Marques)

Estamos a produzir uma sociedade inculta, egoísta, medrosa, narcísica, cujas referências maiores são o consumismo.
Ainda bem que naquela sala de aula da escola Carolina Michaelis estava um alarve que, perdido de gozo, filmou a cena de violência entre a ‘velha’, como ele lhe chamava, e a aluna que se atirou à professora por esta lhe ter retirado o telemóvel durante uma lição.
Ainda bem que estas imagens foram para a internet, para a televisão, para os jornais. Ainda bem que se ouviram as gargalhadas de uma turma que ululava aos gritos histéricos da rapariga, enquanto o alarve, danado de gozo, filmava e gritava para a ‘gorda’ se afastar para produzir melhores imagens. Ainda bem que vimos alguns alunos procurando ajudar a professora para não se concluir que, em vez de uma escola, estamos num território dominado por um gang.
É a evidência daquilo que há muito tempo se conhece. Em muitas escolas, um professor que entra numa sala de aula candidata-se a entrar num filme de terror.
O problema essencial que está em cima da mesa é estruturante, atinge diversos níveis da nossa vida colectiva, é revelador do nível de desorientação que hoje determina políticas incoerentes, desconexas, ditadas por um falso humanismo e por um falso sentido de cidadania.
Falamos do problema da autoridade. Que afecta a escola, que afecta as forças de segurança, que afecta a família, que afecta a organização estruturada do poder em geral.
É certo que viemos de um tempo histórico que durante meio século se pautou pelo autoritarismo, a discricionariedade, pela amputação de direitos cívicos elementares. Mas passaram trinta e quatro anos e este jeito tão português de atirar as culpas para o passado e não é preciso ressuscitar fantasmas para dizer o que deve ser dito: Estamos a produzir uma sociedade inculta, egoísta, medrosa, narcísica cujas referências maiores são o consumismo e, simultaneamente, o rompimento de teias de solidariedade ancestrais.
A autoridade num Estado democrático deve ser reconhecida, e admitida, por quem a percebe e que com ela se relaciona. Os filhos face à autoridade dos pais, os cidadãos perante as determinações policiais ou judiciárias, os alunos perante os seus professores e por aí adiante. É posse de quem a usa mas só existe se lhe for reconhecida. E chegados aqui, somos capazes de perceber que a crise da autoridade, nos vários níveis do quotidiano, resulta da ausência de estímulos para que ela seja reconhecida. A começar pela rápida dessacralização das relações verticais de solidariedade, pela dissolução das redes intermédias do poder, pela socialização de comportamentos tidos como bons que não produzem cidadania mas o seu abastardamento.
O telemóvel tornou-se o símbolo e o mito de uma sociedade tecnologicamente avançada. Mas vazia de humanismo, de sentido de existência, de fome de liberdade. Os Hunos que vimos em acção na Carolina Michaelis são nossos, nascidos da nossa ignorância tecnologizada, da nossa consciência democrática feita com pés de barro e minada por atavismos. De facto, iludidos que andámos muito, estamos a produzir desilusão e pesadelos. E o direito ao sonho? Onde é que pára?

Francisco Moita Flores, Docente Universitário

Aluno vítima de bullying durante um ano inteiro

Sabem porque é que os Alunos e Professores não se queixam de muitas situações de indisciplina / violência que ocorrem nas Escolas?!!

No blogue do Prof. Ramiro Marques estão duas das explicações possíveis:

Esta aconteceu numa escola do Sul do país. Durante um ano lectivo, um aluno de 13 anos foi vítima de bullying por parte de três alunos mais velhos. Todas as semanas, o aluno mais novo era "levado ao poste". O aluno era amarrado ao poste da baliza de futebol e era pontapedado pelos colegas mais velhos que, simultaneamente, o insultavam. Quando o aluno passava pelos três colegas mais velhos era obrigado a parar, fazer uma vénia e dar-lhes a vez. O aluno agredido passou a sofrer de incontinência urinária e a querer faltar à escola. A mãe do aluno dirigiu-se várias vezes à escola, pedindo explicações e solicitando ajuda. Durante os primeiros meses do calvário, a directora de turma e o conselho executivo foram exigindo testemunhas. Não havia ninguém na turma que quisesse testemunhar contra os três alunos agressores. Todos tinham medo deles. No final do 2º período, a directora de turma tomou a iniciativa de fazer uma exposição ao CE solitando a mudança do aluno agredido para outra turma. O requerimento andou para cima e para baixo e o 3º período chegou ao fim. O aluno vítima das agressões só foi transferido de turma no ano lectivo seguinte. Nada aconteceu aos três alunos agressores.

Ou este caso:

Fui vítima de violência física e verbal por parte dos pais de um aluno da minha escola há já 4 anos. Isso aconteceu porque o repreendi por ter batido num colega. O aluno que eu repreendi, como vingança, fugiu da escola e foi dizer aos pais que eu o tinha agredido. Os pais vieram á escola e agrediram-me violentamente. Fui parar ao hospital, bem como a colega que me defendeu. Apresentámos queixa, fomos a julgamento e como faltava um documento do instituto de reinserção social, pois são de etnia cigana e recebem rendimento mínimo, ainda estou por saber afinal qual foi a sentença. À criança, na altura, nada lhe aconteceu, pois tinha idade inferior a 10 anos. Aos pais, nada soube que tivesse mudado na vida deles. Afinal de que serviu tudo isto?
Antónia