domingo, 22 de fevereiro de 2009

Alunos do Leste arrasam a Teoria do Coitadinho - III

Os alunos do Leste. Chegada cá, não tive muitos, mas, agora que estou (precocemente) aposentada, mantenho um contacto muito estreito com o último que me calhou em sorte. É um rapaz russo que foi meu aluno de Português no 2º ciclo e nunca encontrei miúdo mais ávido de corresponder ao esforço dos professores e às ambições dos pais. Telefona-me regularmente para que eu lhe traduza «a lingua da escola» que os professores e os manuais empregam. Por vezes, o assunto fica resolvido com um telefonema. Outras vezes, é preciso o contacto pessoal, a leitura comum, a conversa.
Está cá desde os seis anos e acha que podia ter tido mais sorte no 1º ciclo... porque pouco se ralaram com a sua sede de aprender mais e melhor. Nem se ralavam com a sua caligrafia, foi a mãe que lhe comprou cadernos para aprender a desenhar o alfabeto latino «como deve ser».
O pai é ladrilhador e mãe empregada num supermercado, e se tiveram uma formação superior, ao que ele me diz, não consegui ainda perceber qual. Em casa, falam russo e ucraniano. Mas isso não os impede de o ajudar nos TPC e de perderem horas de trabalho para irem à escola sempre que é preciso. Nas reuniões com os DT tomam notas e fazem perguntas sobre a turma e não sobre o filho. Confessaram a uma DT que não percebiam por que falavam tanto os outros pais enquanto ela apresentava os resultados/problemas da turma. Ficaram envergonhados quando houve um processo disciplinar na turma do filho deles. Trouxeram flores no último dia de aulas aos professores. Agradecem por escrito todos os comentários feitos na caderneta ou nos trabalhos do filho. E perguntam que livros deve ele ler, pedem desculpa antecipada por algum futuro deslize do filho e não aceitam o 3 como nota.

Maria José Seixas

Fonte: http://www.profblog.org

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